quinta-feira, 3 de junho de 2010

Felipe Bueno, diretor de carnaval da Guerreiros: "Não estão botando fé na gente, vão queimar a língua"


Ele não tem papas na língua, fala e justifica. Não tem medo de cara feia e de represalha, pois nunca fugiu de uma boa provocação.

Esse é Felipe Bueno de Sousa, conhecido popularmente como "Carpa", o diretor de carnaval da Guerreiros do Leão. Felipe entrou no carnaval a convite do amigo Sérgio, atual carnavalesco da Vermelho e Branco e desde então nunca mais parou.

Nesse bate papo que da sequência a série de entrevistas rumo ao desfile de 2010, falamos sobre o real, o virtual e mais: Felipe tece críticas a "algumas pessoas" que desrespeitam o trabalho de agremiações iniciantes. Mais, faz uma afirmação: "Não estão botado fé na gente, vão queimar a língua".

Qual seu nome, idade e como começou no samba?

Felipe: Me chamo Felipe Bueno de Sousa, tenho 20 anos e comecei no samba a mais ou menos 10 ou 12 anos, não me lembro ao certo. Eu até então, não acompanhava o carnaval, tipo, via alguma coisa pela televisão, como por exemplo os desfiles de fantasia do Hotel Glória e até mesmo alguma coisa dos desfiles da Sapucaí na época da Manchete. Mas até aí, nunca tinha sequer ido a um ensaio de escola de samba. Um dia, o Sérgio (atual carnavalesco da Guerreiros) que era meu vizinho e grande amigo me levou com ele pra assistir um ensaio da Unidos do Lavapés na quadra da escola estadual José Guilherme, o ano era 1998, lembrei. Cara, à partir daí, me apaixonei pelo Verde e Rosa e consequentemente pelo carnaval. No mesmo ano, fiz o diabo pra minha tia me levar pra desfilar, e eu fui. Sai na ala infantil com o Sérgio vestindo uma fantasia de palhaço, o enredo era "Deu a Louca na Águia", era uma viagem pelo Mundo durante os dias de carnaval, o carnavalesco era o José Rabello e a escola foi vice-campeã do Grupo Especial. Depois disso não parei mais, embalei mais 3 anos como componente de ala e depois passei a ritmista. Aí foram mais 2 anos até que o Sérgio foi elevado a carnavalesco e me "promoveu" a diretor de barracão.

Como era o trabalho com ele?

Felipe: A gente tinha um bom entrosamento, afinal, a gente se conhece desde os 5 anos de idade, crescemos juntos. Faziamos carnaval com as peças de Lego que a gente tinha. Juntavamos todas as coleções que tinhamos e faziamos um desfile com 6 escolas. Quando ele passou a carnavalesco do Lavapés, logo me convidou para integrar a sua equipe, o ano era 2002. Era a reta final do trabalho, é verdade, mas deu pra ralar muito naquele barracão. Em 2003, quando tivemos mais tempo para preparar o carnaval, foi uma maravilha. O Sérgio tem uma coisa de bom, ele dificilmente erra na escolha do pessoal que trabalha com ele. Sabe, aquele lance do olho clínico? Pois é, ele só escolhe fera. Ele pediu ao então presidente do Lavapés, o Paulo Alberti pra montar uma equipe, o Paulo deu carta branca, desde que fosse "na faixa", pois a escola tava em crise. O Sérgio também nunca recebeu nada pelo trabalho dele no Lavapés, tanto que depois que saiu de lá, começou a se valorizar com toda a justiça, pois é um grande profissional. Mas voltando ao barracão, ele é aquele cara chato, pensa carnaval 24 horas por dia e chegou a me ligar de madrugada pra falar de uma escultura que tava tirando o sono dele, era o tão comentado São Francisco do último carro. Assim, ele é um gênio, desenha muito e conhece tudo de materiais e soluções baratas com efeito. Mas pra trabalhar com ele tem que ser fera também. Eu fazia sempre a minha parte, ele desenhava e passava pro ferreiro que montava a estrutura, depois esse passava pro carpinteiro que madeirava toda a alegoria, aí ele chegava pra mim e dizia: "Fê, vai lá, junta o pessoal e abre as caixas que eu deixei no piso do carro. Junto da caixa tem um bilhete com as instruções de manuseio e o que eu quero no carro, beleza? depois eu vou conferir". Eu chagava lá e abria a caixa, queria morrer com o tal bilhete, tinha uma "Bíblia" escrita lá. Mas como eu conhecia o cara, levava numa boa. Mas tem uma coisa de bom, nunca deixou faltar nada pra gente.

A equipe era grande?

Felipe: Não muito. No começo era uma dupla, eu e o Luis Eduardo, que era o pintor de arte que o Sérgio sempre levava com ele pra todo canto. O Luis também é da nossa turma, cresceu por perto, então era mais do que confiável. Em 2004 chegou a Patrícia, ela era quem segurava a bronca da gente nas horas mais difíceis, como quando o Sérgio e o seu João Fackir brigaram no barracão à 15 dias do desfile de 2004. O seu João é fundador da escola, mas não havia se acostumado com as mudanças do carnaval, então pra ele tudo era difícil. Um dia o Sérgio perdeu a paciência e desceu a boca nele, aí ele retrucou. Só faltou os dois se pegarem no pau. Tanto que, o Sérgio abandonou o barracão na reta final. Eu era teóricamente o segundo na hierarquia ali, então vinha todo mundo pra cima de mim esperando ordens. Cara, eu não podia comandar. Aí entrou a Patrícia. Ela era intermediária. O Sérgio ficou sentido com a briga e se isolou no ateliê com as costureiras da escola e não apareceu mais no barracão. Então a Patrícia que era a figurinista dele ia até o ateliê, recebia as instruções e chegava no barracão com tudo "esqumatizado". O Sérgio voltou pra lá no dia do desfile, perto do meio-dia pra acompanhar a saída das alegorias. Além de nós, tinha também a Vânia que era a responsável pelos adereços. O Sérgio nunca confirmou ela como membro da equipe, mas tinha muito respeito por ela.

Então você já passou por muitos momentos no carnaval, bons e ruins?

Felipe: Isso com certeza. Mas chegou uma hora que virou palhaçada. Foi em 2006, quando um cara que eu me recuso a falar o nome acabou com o Lavapés. Ele se apoderou da rpesidencia, segue lá até hoje quebrando o estatuto e ninguem faz nada. Pra 2006 ele manteve o Sérgio e a Patrícia, mas tirou muitos poderes dos dois. Eu, pra você ter uma idéia, cheguei a ser barrado no barracão por um cara que veio lá de São Paulo e que mais dormia do que trabalhava. Eu cheguei pro Sérgio e fui sincero, falei que daquele jeito não dava. Ele concordou. Disse até que não ia insistir pra eu continuar porque ele mesmo já estava estressado e com vontade de desistir. A Patrícia chegava a fazer 48 horas no ateliê com um marmitex e uma garrafa de água. Tanta era a desordem da escola. Eu voltei pra bateria naquele ano e ajudei com alguns adereços que a Patrícia me passou pra terminar. Esse foi o último e pior momento dentro da escola. Bons momentos foram o título de 2003 e a 3° colocação de 2004, o desfile mais gostoso de todos os que eu participei.

Trabalhou em mais alguma escola depois de 2006?

Felipe: É como eu te falei, depois de 1998 não parei mais. Em 2007, fui com o Sérgio e a Patrícia pra Sociedade Fraternidade, onde fomos campeões do Acesso. Em 2008, o Sérgio fez a Unidos do Parque e eu fui junto. Trabalhavamos em conjunto sempre. Cheguei a ganhar dinheiro com carnaval nessa época. A Patrícia fazia fantasias e adereços pra várias escolas, inclusive do Especial. E como eu era habilidoso com as mãos, sempre pegava alguma coisa pra ajudar. Era bom. Em 2009 eu quebrei a promessa de não sair em outra escola que não o Lavapés como ritmista, toquei na bateria da Nove de Julho. Em 2010 eu cheguei a ir com o Sérgio no barracão da Mocidade, mas não tinha clima pra mim lá.

Qual é a espectativa para a estréia no Virtual em 2010?

Felipe: A melhor possível. Estamos trabalhando duro desde dezembro e não vamos admitir um resultado que não condiz com a realidade. Quando o Sérgio me chamou pra esse trabalho, duvidei das condições e até mesmo se era algo levado a sério, mas quando conheci o site da LIESV, a comunidade do orkut e o grupo do msn, me convenci do contrário. Achei bem legal. Porém nem tudo são flores... como bem cantou a Viradouro em 2009. Essa semana, com a proximidade do desfile da CAESV, vi um comentário que colocou à prova a apresentação de algumas escolas. Algo do tipo: "Se não tiver nome de peso não vai pra frente". Cara, isso é ridículo. Tem que se respeitar qualquer pessoa que trabalhe de maneira correta e séria nesse negócio de carnaval. A essência do carnaval é isso. Eu li coisas grotescas de um presidente de uma co-irmã na comunidade da CAESV ainda no ano passado. Tiravam sarro do cara e tal, diziam que ele não colocava a escola na rua. Taí, vai desfilar. No mesmo dia da Guerreiros. Eu sou da seguinte opinião: "Viva e Deixe Viver", cuida da sua vida, da sua escola e deixa o resto com a gente. To torcendo mesmo pra todo mundo arrebentar e fazer o melhor desfile da história da avaliação. O audio do CD é o que menos conta. Afinal, se CD valesse alguma coisa, as escolas que o Preto Jóia puxa seriam campeãs todo ano, haja visto que ele é quem melhor conduz os sambas em estúdio.

A Guerreiros está preparada para um possível acesso?

Felipe: Com a equipe que tem eu acho que está. Experiência nós temos de sobra. Se conseguirmos esse acesso, começaremos a trabalhar no mesmo dia. Temos que apresentar na LIESV um trabalho digno da confiança em nós depositada.

Da pra adiantar alguma coisa do desfile?

Felipe: Um carnaval com a nossa cara. Luxuoso e muito bem realizado. Pra NINGUEM botar defeito. Sabe, não estão botando fé na gente. Esses caras vão queimar a língua e vão ficar quietinhos. Vão pensar duas vezes antes de falar asneiras.

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